Passeios de carruagem puxadas por cavalos são uma realidade facilmente encontrada em vários locais e uma atividade turística muito requisitada. Seja nas grandes cidades europeias, em Nova Iorque ou no Egito, continua a ser frequente encontrar carruagens puxadas a cavalos à espera de turistas dispostos a pagar por um passeio. Os animais pagam um preço mais alto. Muitas vezes, com a vida.
Aquilo que podem parecer passeios românticos e aprazíveis para as pessoas, podem ser um verdadeiro inferno para os animais que têm de puxar as carruagens, muitas vezes durante longas horas e sem descanso. Muitos cavalos passam o dia todo a carregar cargas pesadas, a transportar turistas de atração em atração, sob o sol escaldante, em locais com pouca sombra e sem tempo para beber água, comer ou descansar. Um ciclo infernal, vendido como se fosse uma experiência mágica.
Repetem-se as notícias de animais que acabaram por cair de exaustão, sofreram ferimentos, desidratação e, não raras vezes, sofreram espancamentos por parte dos seus responsáveis, que colocam o lucro económico à frente do bem estar animal. Tudo isto, para proporcionar uma experiência de férias ou lazer às famílias e turistas.
Em cidades movimentadas, os cavalos são forçados a conviver de perto com os carros, com os quais dividem as ruas, o que pode levar a que desenvolvam doenças respiratórias, uma vez que respiram gases de escape, prejudiciais à saúde. Além disso, os registos de acidentes entre carros e carruagens também são frequentes, especialmente em cidades com muito trânsito. Os cavalos são animais sensíveis, podendo assustar-se facilmente , o que pode colocar em risco a sua própria segurança e a segurança das pessoas ao seu redor.
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Passeios de carruagem puxadas por cavalos: Acidentes
Uma pesquisa dos EUA sobre acidentes nacionais com cavalos que puxam carruagem revelou que:
- 85% de todos os acidentes foram resultado de um animal assustado
- 70% das vezes ocorreu uma lesão humana
- 22% das vezes ocorreu uma morte humana
Na cidade de Nova Iorque, que tem a maior taxa de acidentes com cavalos de carruagem do país, 98% dos cavalos que se assustaram acabaram por ficar feridos.
Outro fator de risco é o facto de os animais, normalmente, terem de trotar durante os passeios de carruagem o que os coloca em risco de serem atropelados pela própria carruagem se tiverem de parar repentinamente por qualquer motivo.
Existem ainda muitos outros fatores que afetam o bem-estar dos cavalos, incluindo o tamanho e a força dos animais, as distâncias e o terreno que devem percorrer e os equipamentos e cuidados de saúde disponíveis.
Passeios de carruagem puxadas por cavalos: Um atentado ao bem-estar animal
Os animais utilizados no setor do turismo enfrentam uma série de problemas tais como:
Sobrecarga e feridas
Os responsáveis pelos passeios de carruagem podem permitir que os cavalos tenham de puxar carruagens pesadas, que podem aumentar o risco de problemas sérios, como fraturas ósseas. Mesmo para cavalos saudáveis, puxar um veículo que transporta de duas a nove pessoas pelas ruas da cidade não é uma tarefa fácil. O atrito constante de selas e outros equipamentos pode causar feridas profundas nos cavalos.
Além disso, o ato de chicotear os cavalos pode causar feridas graves e dolorosas que podem infectar se não receberem os cuidados apropriados. Estes animais raramente fazem os exames veterinários necessários e especializados devido à falta de interesse por parte do responsável ou ao alto custo. Também é comum ver cavalos a mancar, pois as suas ferraduras e cascos não recebem a manutenção necessária para andar o dia todo num pavimento duro, que pode estar muito quente no verão ou escorregadio quando molhado.
Desidratação
Os animais precisam de muita água e sombra para evitar a perda de minerais e sais essenciais à medida que suam. Muitos desses cavalos sofrem de desnutrição e desidratação, bem como falta de sombra e áreas de descanso, já que são obrigados a puxar carruagens o dia inteiro, especialmente nos dias de verão quando o fluxo de turistas é maior e a procura por passeios de carruagem aumenta.
Mas estas são apenas as consequências mais visíveis. Outros factores, como é o caso da poluição, podem causar problemas graves e não visíveis a olho nu.
Poluição
A poluição do ar, em qualquer época do ano, tem um efeito adverso no sistema respiratório dos cavalos. Pode-se supor que a procura por passeios a cavalo normalmente atinja o pico durante os meses de verão, quando o comércio turístico está mais movimentado e as estradas estão mais congestionadas, existindo mais poluição. Durante o verão, os cavalos que puxam carruagem também estarão a respirar mais profundamente devido ao calor, inalando assim enormes quantidades de toxinas.
A revista médica, The Lancet, observou que os animais expostos à poluição por ozónio sofreram enfisema, cancro e envelhecimento acelerado, afirmando que “em animais expostos ao ozónio, a mortalidade por infecções pulmonares é maior”.
O veterinário americano Jeffie Roszel estudou os problemas respiratórios dos cavalos usados para puxar veículos no trânsito e descobriu que as “lavagens traqueais e amostras de secreções respiratórias desses cavalos mostraram enormes danos nos pulmões, o mesmo tipo de dano que se espera de um fumador”.
Insolação e cólicas
Durante os passeios de carruagem, os cavalos estão expostos a riscos de insolação e cólicas, uma das principais causas de morte em cavalos adultos. David Freeman, veterinário especializado em equinos da Universidade de Oklahoma, alertou que períodos de exercício intenso seguidos por períodos em que o cavalo está simplesmente parado, além do difícil acesso do cavalo às quantidades necessárias de água, aumentam os riscos de insolação e cólicas. Durante os meses de verão, os cavalos que sofrem de desidratação ou stress térmico podem morrer em apenas algumas horas.
Em 2019, a PETA divulgou imagens que mostram os maus-tratos sofridos por camelos e cavalos no Egito, próximo aos principais pontos turísticos do país. Num vídeo divulgado pela ONG, é possível ver pessoas a bater num cavalo que estava caído no chão após desmaiar de cansaço. A violência só termina quando o cavalo se levanta para continuar a puxar a carruagem, mostrando que os responsáveis priorizam o lucro em detrimento do bem-estar dos animais.
Os abusos sofridos pelos animais são consequência da atividade turística, já que os cavalos são obrigados a trabalhar exaustivamente sem alimentação, água ou cuidados apropriados, além de serem vítimas de violência. De acordo com a PETA, turistas que participam de atividades com animais estão a financiar o sofrimento dos animais. Isso inclui, claro, quem faz passeios de carruagem puxadas por cavalos.
Embora esta seja uma prática generalizada, na qual muitos de nós já participaram, a verdade é que tem muitas consequências negativas, nas quais muitas vezes nem pensamos. Mesmo quando os animais nos parecem bem tratados – à primeira vista – e o clima está ameno, é possível que os cavalos ainda estejam em sofrimento. A principal forma de ajudar estes animais é não aderir a passeios e pacotes turísticos que promovam este tipo de atividades.
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