Não sei para onde as pessoas do sul fogem, mas quem é do norte tem o Parque Nacional da Peneda-Gerês como refúgio. Passar uns dias no Gerês é uma terapia frequente. E eu não sou excepção. Também no inverno, mas principalmente no verão, é para o Gerês que vou quando quero, como diz a minha mãe, “aliviar a cabeça” ou, como dizem os especialistas modernos, fazer um “detox”. A natureza, os miradouros, as cascatas… São vários os encantos.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês é aquela imensidão de natureza que não encontramos em lado nenhum e, por muito que goste do Douro, o Gerês mais selvagem permite-nos desfrutar da natureza a nível mais profundo. No entanto, acho que importa sublinhar que a Peneda-Gerês é um parque nacional e uma área protegida e não um parque de diversões. A afirmação parece óbvia, mas cada vez que vou ao Gerês sinto que há pessoas que confundem. As cascatas são, sem dúvida, uma das mais incríveis criações da natureza e todos queremos desfrutar delas. No entanto, fazem parte de uma zona e não de um parque aquático, onde se espera que todas as medidas de segurança sejam tomadas. Os acessos nem sempre são fáceis e, ao contrário do que ja ouvi, não é suposto criar um passadiço que chegue a todas elas.
Onde a Natureza não dá garantias de segurança
Os banhos foram proibidos nas Cascatas de Fecha de Barjas, por vezes designadas Cascata do Tahiti, o que gerou algum alvoroço. Lembrei-me automaticamente da última vez em que estive na cascata do Tahiti e, enquanto me sentava numa das pedras, vi passar uma pessoa com uma bóia em forma de unicórnio. Cheia! Com um braço segurava a bóia e com a outra agarrava-se as pedras por onde descia. Digno de medalha porque eu com as duas mãos livres não tive coragem de descer por ali. Seria muito difícil para os meios de resgate chegarem até mim! No mesmo dia, ainda vi alguém a fazer o percurso com um fogareiro.
Os caminhos são difíceis e tortuosos mas, perante o perigo, as pessoas continuam por caminhos complexos e duvidosos, com uma fé inabalável de “se os outros vão eu também consigo” ou “se existe passagem é porque é seguro”, com uma mentalidade de rebanho que pode colocar em risco a sua integridade física. Como se fosse um parque de diversões, onde olhamos com medo para as pessoas a lançarem-se lá do alto e pensamos: “Que medo! Mas se está a ser feito é porque é seguro”. E vamos! Mas o Parque Nacional da Peneda-Gerês não é um parque de diversões e a natureza não tem de cumprir requisitos de segurança. É insegura, instável e perigosa, por muito graciosa que também seja.
Parque nacional: Para visitar com consciência
Claro que proibir os banhos na cascata não é a melhor solução. Mas o que fazer perante a inconsciência que coloca em risco a integridade física dos visitantes a todo o momento? Criar acessos? Não creio que essa seja a solução. A natureza não criou este local com o único objetivo de ser um espaço turístico para usufruto do ser humano. É um ecossistema complexo, lar de múltiplas espécies que não pode nem deve ser alterado com o único objetivo de melhorar a experiência de lazer de um grupo de turistas que o visita quando as temperaturas convidam a mergulhos nas cascatas.
O parque é de todos nós, incluindo das várias espécies que lhe chamam casa. É nosso para admirar e apreciar, mas não para modificar aquele que é o seu valor essencial: o ser natural. O Parque Nacional da Peneda Gerês é nosso para visitar, mas devemos fazê-lo com consciência dos seus perigos e respeito pela sua natureza que é, e deve continuar a ser, intocada, por muito aborrecido que isso seja cada vez que tropeçamos numa pedra fora de lugar e sempre que não nos é permitido levar o carro para dentro da cascata.
A natureza não foi criada para nosso usufruto e não nos dá certificação de segurança. Desfrutem do Gerês mas, como diria o outro, tenham noção.
Conheço a Peneda do Gerês. Já por aí andei. Foto muito bonita.
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Feliz fim de semana.
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É um lugar incrível muito bonito, fantástica a foto bjs.
Adoro essa zona!