Para quem gosta de caminhar, mas também de comer bem e descobrir locais de grande importância histórica e cultural, os “Caminhos da Região de Coimbra” são um projeto que devem conhecer. O objetivo do projeto é promover os recursos naturais da Região através de uma rede de trilhos pedestres, desde pequenas rotas, perfeitas para se fazer num dia, às Grandes Rotas do Alva, Bussaco e Mondego, que proporcionam vários dias de caminhadas e experiências associadas. No primeiro dia da minha viagem pela região, tive oportunidade de conhecer parte da Grande Rota do Alva. Conheci novos locais, novas pessoas e apaixonei-me por uma pequena aldeia encantadora, da qual nunca tinha ouvido falar. Curiosos? Continuem a ler.
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Grande Rota do Alva: Penacova
Cheguei a Coimbra de manhã e partimos para Penacova. Paramos no Restaurante Panorâmico onde tivemos oportunidade de experimentar dois doces típicos da região: as nevadas e os pasteis de Lorvão.
Tão maravilhosa quanto os estes doces típicos é a vista da esplanada para a Praia Fluvial do Reconquinho. Com o rio Mondego a serpentear por entre o vale e um casario na margem, é o cenário perfeito para um postal turístico a lembra as paisagens alpinas.
Mas esta não é, nem de perto a única paisagem incrível que iríamos encontrar na nossa viagem.
Depois de apreciarmos o rio Mondego ao longe, descemos para apreciar o rio Alva de perto, ao longo do percurso PR3 PCV – Rota do Alva – parte da Rede de Percursos Pedestres de Penacova. Trata-se de uma rota circular com mais de 12 quilómetros, da qual só percorremos uma pequena parte.
Praia Fluvial do Vimieiro
Depois de caminharmos ao longo dos marachões – muros de xisto usados para conter a água do rio e dividir terrenos – chegamos a uma dos locais mais maravilhosos desta viagem: a Praia Fluvial do Vimieiro.
Junto à Praia Fluvial de Vimieiro, encontramos duas rodas: uma que aciona a rotação das mós do moinho de cereais, aqui chamado de moenda, e a outra que serve para a elevação de água e utilização na rega das culturas agrícolas nas ínsuas.
A praia, com bandeira azul, é muito bonita com uma envolvência natural incrível. Rica em natureza, mas também em história e cultura, com moinhos que tornam o cenário pitoresco, tem ainda um parque de merendas perfeito para piqueniques tranquilos ao som da água a correr.
Quem não quiser fazer um piquenique, pode fazer as suas refeições no restaurante Vimieiro. Não se deixem enganar pelo exterior simples, não vão encontrar toalhas de papel nem cadeiras de plástico no seu interior. O espaço é muito elegante e os pratos são vão dos petiscos aos pratos tradicionais com um toque de originalidade. Além da comida deliciosa – abençoados cogumelos à Bulhão Pato – a vista para o rio torna tudo ainda mais agradável.
Grande Rota do Alva: Avô, Oliveira do Hospital
Com o tempo contado, não tivemos oportunidade de percorrer o restante da rota – Quem sabe numa outra oportunidade! – e fizemos uma curta viagem de carro até Avô em Oliveira do Hospital.
Antes de descer para a aldeia, paramos no miradouro Varandas de Avô, de onde temos uma perspectiva incrível de uma das paisagens mais bonitas de Oliveira do Hospital.
Podemos ver o rio a serpentear por entre os montes, num cenário em tons de verde pintado pela povoação de Avô, com algumas dezenas de casas ao fundo.
Estacionamos junto à igreja matriz e ao coreto e descemos a rua até à ilha do Picoto, uma das paisagens mais bonitas da região. Podemos ver o local onde o Rio Alva se encontra com a Ribeira de Pomares, formando assim a chamada Ilha do Picoto. Ali fica a Praia Fluvial de Avô, que apostamos que é uma das mais bonitas do país. Com uma paisagem fascinante, em que a ponte de um só arco une as duas margens entre a vegetação e com os montes ao fundo, uma casa em tons de vermelho é um ponto de cor entre os tons de verde e torna o cenário extremamente pitoresco. Perfeito para um cartão postal. Ou, na atualidade, perfeito para o Instagram.
Quando percorremos as ruas de Avô, só sentimos a calmaria de uma pequena aldeia. Os habitantes espreitam pelas janelas e perguntam-nos o que estamos a fazer, outros conversam connosco durante vários minutos e mais seriam se não tivéssemos de continuar. Ofereceram-nos licor, amêndoas e várias bençãos, acolheram-nos imediatamente como os avós fazem. Pelas ruas, encontramos vários gatos que vinham ao nosso encontro.
No castelo de Avô, já existiam turistas, mas num número muito reduzido, interferindo com o ambiente tranquilo que se vive na aldeia.
Castelo de Avô
A estrutura do Castelo de Avô inclui as ruínas da Ermida de São Miguel. Durante o reinado de D. Afonso Henriques, Avô era já couto da coroa e foi doado pelo rei à sua filha bastarda, D. Urraca Afonso, mulher de Pedro Viegas, filho de Egas Moniz.
Durante reinado de D. Sancho I o castelo de Avô foi destruído, devido a desentendimentos entre D. Sancho I e D. Pedro Soares (Alcaide-mor do castelo de Avô), reconstruído mais tarde no reinado de D. Afonso II. No entanto, já durante o reinado de D. Sancho II, o castelo volta a sofrer a destruição devido à guerra civil entre o rei D Sancho II e de D. Afonso III.
O Castelo de Avô, embora passe despercebido à maioria dos turistas, é assim um importante testemunho da história de Portugal e tem uma vista incrível para o resto da aldeia.
Saímos do Castelo e voltamos a percorrer a rota PR4 OHP, pelos caminhos de xisto de Avô, com 8 quilómetros de extensão, que faz parte da Grande Rota do Alva. Passamos pela capela da Nossa Senhora dos Anjos, mesmo em frente à casa da dona Maria Lúcia que nos oferece amêndoas e licores e seguimos até ao próximo ponto de interesse do percurso: a calçada romana.
Grande Rota do Alva: Via Imperial Romana
Pelo caminho passamos por cabras e cavalos, por campos repletos de plantações e pessoas com enxadas.
— Boa tarde. Sabe-nos dizer onde fica a calçada romana? – perguntamos a um senhor que trabalhava num campo próximo ao caminho.
— Aquelas pedras no chão? – responde numa mistura de incredulidade e diversão.
— Essas mesmo!
— É seguir em frente! – responde, sem entender o motivo pelo qual vamos ver as “pedras no chão” que para ele são tão comuns e desinteressantes.
Alguns metros à frente chegamos à Calçada Romana, que são, efetivamente, pedras no chão. Não resta muito da antiga via imperial romana, são apenas uns metros daquela que um dia ligava a aldeia a Comínbriga.
O último ponto da nossa caminhada – que poderia ser o primeiro ou o do meio já que o percurso é circular – é a incomum Ponte das Três Entradas que, tal como o nome diz, é uma ponte com três entradas. Estas três entradas atravessam dois rios, no local em que o rio Alvôco encontra o rio Alva, existindo assim um cruzamento no centro da ponte. Pouco comum, não é? Coisas que se descobrem ao percorrer a Grande Rota do Alva.
Depois da caminhada, voltamos a Coimbra com o coração cheio e já com vontade de voltar.
Onde Comer em Coimbra
Já tive oportunidade de comer em vários restaurantes em Coimbra e nunca comi mal. Em Coimbra come-se bem e come-se de tudo. Além de se comer bem, existe em Coimbra uma grande oferta de espaços com diferentes conceitos, que se tornam uma atração por si só.
Nesta viagem, jantei no Restaurante Refeitro, um espaço muito bonito que ocupa o edifício de uma antiga fábrica de cerâmica. Ainda é possível ver os fornos onde as peças de cerâmica secavam e jantamos mesmo por baixo de uma antiga chaminé. A fábrica continua a funcionar num espaço junto ao que pode mesmo ser visitado. Os pratos estavam irrepreensíveis e as saladas estavam simplesmente divinais.
Onde dormir em Coimbra
Coimbra é um dos meus destinos favoritos mas, curiosamente, poucas vezes lá passo a noite, sendo um local por onde passo mas onde não fico. No entanto, desta vez passei a noite no centro de Coimbra no Tivoli Coimbra. Super confortável, bem localizado e com uma equipa simpática é uma ótima opção de alojamento em Coimbra. O pequeno-almoço também é ótimo!
A Cachopa visitou a Rota do Alva a convite da Região de Coimbra. Ao longo da viagem fomos guiados, amparados e muito bem acompanhados pela Portugal Green Travel (obrigada Cláudia!).
Publicação maravilhosa. Uma aula histórica admirável. Amei ler e reler. Existem sempre fatos que desconhecemos. Uma conclusão: Já nesse tempo haviam filhos bastardos? E eu a pensar que as “traições” eram mais da era moderna, lol
Gostei mesmo muito de ler e ver as fotos
Bom fim de semana
Foi uma agradável surpresa a descoberta do seu blog, que visitarei mais vezes.
Abraço amigo.
Juvenal Nunes
Belas fotos. Não me importava de dar umas voltinhas por aí!
Belas fotos!