Nas Caldas da Rainha, cidade berço do Bordado das Caldas e marcada pela arte de Bordalo Pinheiro, esse legado artístico é valorizado por toda a cidade, mas vai muito além dele. A arte continua em evolução, em movimento, com novas peças e novos artistas a darem novo sentido à cidade.
Apesar da sua presença discreta nos roteiros turísticos, a cidade das Caldas da Rainha é um destino repleto de arte em várias formas e de artistas históricos e emergentes.
Não é por acaso que Caldas da Rainha é Cidade Criativa do Artesanato e Artes Populares, integrando, desde 2019 a Rede de Cidades Criativas da UNESCO.
Conteúdo do Artigo
Bordado das Caldas
Podemos falar de várias artes e ofícios nas Caldas da Rainha, mas comecemos por uma das suas tradições mais antigas: o Bordado das Caldas.
Este bordado tem uma longa tradição e remonta ao tempo de D. Leonor. Por esse motivo, é muitas vezes apelidado de Bordado da Rainha D. Leonor.
Não podemos falar da história do bordado das Caldas, sem mencionar outro dos ex-libris da cidade: o Hospital Termal, cuja história veremos mais à frente.
Por agora, diremos apenas que o Hospital Termal era um desejo de D. Leonor. Foi a Rainha quem o mandou construir e não poupou esforços para tornar o seu sonho realidade. Não poupou esforços, nem poupou o seu próprio ouro.
História do Bordado das Caldas
Quando D. Leonor ficou sem recursos para continuar a obra e erguer o hospital termal, não recuou e vendeu o seu próprio ouro, incluindo os alamares do seu manto, para financiar o projeto.
As suas aias, que passavam consigo longas temporadas nas Caldas da Rainha, passavam dias bordar, inspiradas pelos bordados vindos da Índia.
Sensibilizadas pelo ato da Rainha de vender o seu ouro, quiseram surpreendê-la, bordando-lhe o manto em tons dourados, imitando o ouro que D. Leonor já não tinha. Esta foi a forma de retribuir à Rainha um pouco do esplendor do seu ouro desaparecido. E assim nascia o bordado típico da cidade.
É indiscutível a riqueza desta arte e o seu valor histórico. A herança vinda de outros tempos é valorizada nas Caldas da Rainha. Mas a cidade não ficou presa no tempo. O bordado continua a ser encontrado à venda junto ao Hospital, como era no tempo de D. Leonor, quando eram vendidos toalhas e panos para financiar as obras. O bordado continua lá. Autêntico. Mas é agora aplicado agora em novas formas. Estando até presente em sapatilhas. Uma nova forma de fazer viver esta tradição. Um honrar da história sem ficar preso no tempo.
A arte continua viva nas Caldas da Rainha. A todos os níveis.
O Legado de Bordalo Pinheiro nas Caldas da Rainha
No passado, foi Bordalo Pinheiro que despertou a chama criativa das Caldas da Rainha, e o seu legado foi eternizado com a Rota Bordaliana, um percurso que passa por 20 réplicas das peças do artista.
Rota Bordaliana
A Rota Bordaliana começa em frente à Estação de Caminho de Ferro, pois era de comboio que Bordalo Pinheiro chegava às Caldas da Rainha, vindo de Lisboa. Em frente à estação, encontra-se a rotunda com pequenas Rãs pequenas e uma Rã Gigante. Daí, a rota segue por várias outras réplicas de obras do artistas, eternizado o seu legado, peça após peça.
A efervescência artística constante nas Caldas da Rainha
Enquanto percorremos a pé a Rota Bordaliana, na ADOC –Associação Design Ofícios e Cultural nascem novas obras de arte, pelas mãos de artistas emergentes. A tradição artística da cidade continua viva e de boa saúde.
ADOC –Associação Design Ofícios e Cultural
Eneida Lombe Tavares cria peças que unem a cerâmica à cestaria. Samuel Reis trabalha peças de vidro soprado, usando troncos de árvore ocos para dar forma às peças. Vítor Agostinho cria várias peças diferentes usando um único molde mutante. A arte continua a nascer e a criatividade não para.
O que visitar nas Caldas da Rainha
Caldas da Rainha não é a cidade com mais presença nos roteiros turísticos, mas engana-se quem pensa que é um destino menor, com pouco para visitar e conhecer. Caldas da Rainha é o destino perfeito para os amantes da arte em contínua manifestação. Numa visita à cidade, existem alguns locais que não pode deixar de visitar.
Hospital Termal Rainha D. Leonor
O primeiro ponto desta lista só podia ser o Hospital Termal Rainha D. Leonor, já que foi onde tudo começou. Corria o ano 1484, quando Rainha Dona Leonor, a caminho da Batalha, viu um grupo de pessoas a banhar-se em águas enlameadas.
A Rainha ficou curiosa e questionou sobre o que ali se passava e foi-lhe explicado que se tratavam de “águas milagrosas”. Segundo a lenda, que a Rainha teria testado tais águas tendo-se curado das maleitas que padecia à época.
Dona Leonor ficou assim encantada com o poder curativo das águas, ao ponto de mandar construir, no ano seguinte, o Hospital Termal, para que todos pudessem desfrutar das águas.
E foi assim que nasceu o Hospital Termal mais antigo do Mundo e as próprias Caldas da Rainha (Leonor, como é óbvio).
Parque D. Carlos I
Este talvez seja o principal cartão-postal da cidade. O Parque D. Carlos I é um espaço muito agradável para passear e relaxar entre as árvores ou fazer passeios de barco no lago. O parque conta com um jardim romântico da autoria do arquiteto Rodrigo Berquó, natural da cidade, e responsável pela revitalização do parque e a criação do bonito lago artificial.
Praça da Fruta
Na Praça da Fruta realiza-se o único mercado diário ao ar livre de Portugal. Todas as manhãs, os comerciantes reunem-se aqui para vender os seus produtos. Mas nem só de fruta vive este mercado, apesar do nome. Aqui, também são vendidos produtos hortícolas, flores e até cerâmica.
Museus das Caldas da Rainha
Caldas da Rainha tem uma história artística forte e, por isso, não é de estranhar que existam muitos museus interessantes para visitar.
Sabiam que o Museu Malhoa foi o primeiro museu português a ser construído para ser um museu? Até aqui, todos os museus anteriores funcionavam em edifícios pé existentes. Este foi o primeiro edifício a ser construído com o intuito de ser um museu. O Museu Malhoa acolhe um acervo de referência do Naturalismo português centrado na obra de José Malhoa.
O Museu da Cerâmica, pelo contrário, não foi construído para ser um museu, estando situado num bonito Palacete em estilo romântico do século XIX. Neste espaço encantador é possível encontrar produção artística caldense, desde as formas de olaria e produção artística que remonta ao século XVII até à produção contemporânea.
Calda da Rainha tem um Centro de Artes vibrante onde encontrámos vários museus, como o Museu Leopoldo de Almeida, com centenas de esculturas e desenhos doados pelos herdeiros do artista.
No Museu Barata Feyo é possível descobrir o acervo de obras deste escultor. As obras dividem-se em três grupos temáticos principais: o retrato, a escultura oficial e escultura religiosa.
No Museu António Duarte é possível encontrar grande parte da produção do escultor, desde escultura pública até um registo mais intimista. No Atelier-Museu João Fragoso é possível conhecer a obra do artista, no mesmo espaço oficinal que dá continuidade à sua produção artística.
O Espaço da Concas é uma joia artística que abraça a memória e o legado da pintora Maria da Conceição Nunes, conhecida como Concas. Concas, que foi uma figura fundamental no “Grupo dos Seis”, deixou um impacto indelével no mundo da arte.
Todos os espaços do Centro de Arte têm entrada gratuita.
Onde comer nas Caldas da Rainha
Nas Caldas da Rainha, existem muitos lugares onde se pode desfrutar de uma excelente refeição. Entre os restaurantes disponíveis, optamos por visitar o aconchegante e charmoso restaurante Trigo e Bolota. Com um ambiente simples e agradável, a equipa recebeu-nos com enorme simpatia e hospitalidade. A comida tradicional une habilmente simplicidade e sabor. Os pratos são cuidadosamente preparados, valorizando os sabores regionais e oferecem uma verdadeira experiência gastronómica local.
No final da refeição, a sobremesa trouxe uma surpresa agradável: um delicioso pastel Bordalo, uma iguaria típica que fechou nossa experiência gastronómica com chave de ouro. Mas, no que à doçaria diz respeito, existem outros tesouros para descobrir: as trouxas das caldas, as cavacas e os beijinhos são alguns deles.
As Caldas é um sítio muito bonito e com muita tradição 🙂
Um beijinho,
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