Os golfinhos são frequentemente encontrados em parques aquáticos ou jardins zoológicos, onde muitas vezes existem espetáculos em que os animais saltam e nadam com os visitantes. Os golfinhos aparentam estar felizes e bem tratados, sendo até alimentados durante os espetáculos. Há quem diga que “estão a sorrir” e essa tem sido a sua maior desgraça. Os visitantes estão longe de imaginar o sofrimento que está por detrás dos espetáculos com golfinhos.
Os golfinhos são privados de comida como método de treino, o que significa que lhes resta pouca escolha a não ser fazer os truques durante os espetáculos para conseguirem alimentar-se. Em muitos casos, a comida é retida aos golfinhos ao longo do dia, deixando-os à beira da fome extrema o que os obriga à obediência de forma ainda mais eficaz. Estes animais não estão felizes, mas sim em desespero. Não saltam por diversão, saltam para sobreviver.
A maioria dos golfinhos na indústria do turismo é criada em cativeiro, nunca tendo conhecido outra realidade. Noutros casos, os animais são capturados, separados do seu grupo e privados da liberdade. Tudo isto para que a indústria do turismo possa ter lucro e para que os turistas se possam divertir em espetáculos com golfinhos.
Os golfinhos em cativeiro, usados em espetáculos com golfinhos, são mantidos em piscinas demasiado pequenas, em nada comparadas com o seu habitat natural. Em muitos casos, não têm o espaço suficiente para mergulharem e se protegerem dos raios ultravioleta. O tratamento da água da piscina, feito com cloro, é prejudicial à sua saúde. Tudo isto coloca os golfinhos em cativeiro em situação de stress, o que os leva a ranger os dentes, abanar a cabeça e a nadar em círculos, devido às condições não naturais do cativeiro. Alguns golfinhos chegam suicidar-se, ao nadar para o fundo da piscina sem regressar para respirar. Enquanto os espetáculos com golfinhos divertem o público, os golfinhos estão em profundo sofrimento
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Golfinhos em Cativeiro
Uma vez que as empresas que organizam espetáculos com golfinhos e que mantêm golfinhos em cativeiro nem sempre são obrigadas a comunicar nascimentos e mortes, é difícil quantificar exatamente quantos golfinhos são mantidos em cativeiro atualmente. Uma análise, efectuada em 2015, chegou ao número de mais de 3 mil seres mantidos em tanques em todo o mundo, estimando-se que existam 336 atrações com golfinhos – conhecidas como delfinários – em 54 países, ao redor do globo.
Golfinhos em Cativeiro em Portugal
Portugal tem dois delfinários: no Zoomarine e no Jardim Zoológico de Lisboa. Ao todo existem 33 golfinhos fechados em tanques, oito deles estão no Jardim Zoológico e 25 estão no Zoomarine. Em 2023, a provedora do animal, Laurentina Pedroso, entregou ao Governo algumas propostas para criar uma legislação que melhore as condições de vida destes animais.
A curto prazo o objetivo é acabar com a reprodução de golfinhos em cativeiro e os espetáculos de acrobacias em contacto com os participantes. Não existiriam mais espectáculos com golfinhos e estes apenas poderiam ser observados pelos visitantes, sem interação.
A médio prazo, Laurentina Pedroso propôs a criação de um refúgio marinho junto à costa, onde estes golfinhos pudessem viver num ambiente mais próximo do natural, dado que quase todos estes golfinhos já nasceram em cativeiro e não têm capacidade de sobreviver na natureza.
Espetáculos com golfinhos encurtam-lhes a vida
Não há um amplo consenso sobre quanto tempo os golfinhos vivem na natureza, em comparação com a expectativa média de vida em cativeiro. Um estudo fixou a expectativa de vida dos golfinhos em cativeiro em cerca de 30 anos, enquanto outro estudo chegou ao número de cerca de 12 anos. No entanto, os golfinhos são conhecidos por terem a possibilidade de viver até os 60 anos, desde que em liberdade.
Mesmo que a expectativa média de vida dos golfinhos em cativeiro fosse semelhante à dos golfinhos na natureza, isso não beneficiaria em nada a indústria de cativeiro. As empresas que têm golfinhos em cativeiro costumam publicitar que lhes dão cuidados e atenção médica, promovendo a falsa de ideia de que o facto de os golfinhos serem protegidos de predadores, e de não precisarem procurar comida, são alguns dos benefícios da vida em cativeiro. Defendem, assim, que o cativeiro torna a vida dos golfinhos mais “fácil”.
Se esses fatores estivessem realmente a contribuir para o bem-estar dos golfinhos, os que se encontram em cativeiro deveriam estar a viver muito mais que os golfinhos selvagens, que não recebem tratamento veterinário e estão desprotegidos de predadores. Este não é claramente o caso, o que coloca em evidência a forma como os golfinhos vivem uma vida de sofrimento em cativeiro. Os espetáculos com golfinhos contribuem para a sua morte.
Os espetáculos com golfinhos não os fazem felizes
Há muitas evidências que sugerem que, uma vez a viver nesta condição, estes animais revelam sintomas de estarem deprimidos. Os golfinhos podem ter comportamentos estereotipados, que vão desde movimentos repetitivos ou comportamentos não comuns que só são detectados nos golfinhos que estão em cativeiro
Acredita-se que os comportamentos estereotipados são um efeito direto do cativeiro, uma vez que surgem devido a uma deterioração crónica do bem-estar mental e emocional, que leva os golfinhos a sofrer de tédio, falta de estímulo, stress, depressão, entre outros estados psicológicos.
Na natureza, os golfinhos percorrem muitos quilómetros por dia e não são frequentemente encontrados letargicamente à deriva à superfície da água. No entanto, este comportamento é considerado estereotipado em cativeiro, tendo em conta os períodos invulgarmente prolongados em que os cetáceos têm sido observados a comportarem-se desta forma. Outros estereótipos incluem nadar no mesmo padrão à volta do tanque durante horas; balançar as cabeças, estalar as mandíbulas e mastigar repetidamente as barras ou grelhas, o que leva a que, muitas vezes, partam os dentes.
Em aquários onde os golfinhos são obrigados a realizar espectáculos ao estilo do circo, os treinadores e os artistas ficam de pé nas costas e até mesmo nas faces dos golfinhos, usando-nos como “pranchas de surf” para entreter os visitantes. Estes espectáculos são realizados com uma frequência tão elevada que os golfinhos acabam por desenvolver feridas abertas nos seus corpos. Como a pele dos golfinhos é extremamente sensível, estas feridas podem causar dores constantes.
Golfinhos são frequentemente capturados na natureza a fim de repovoar tanques em todo o mundo. No entanto, a indústria do cativeiro afirma regularmente que o seu regresso ao mar é impossível, pelo que deverão continuar privados da sua liberdade. No entanto, este argumento não é verdadeiro.
A vida além dos espetáculos com golfinhos
A história de dois golfinhos capturados e mantidos ilegalmente na Coreia do Sul ilustra um exemplo importante de como a libertação do cativeiro pode, de facto, ser bem sucedida. Após quatro longos anos em cativeiro, os golfinhos Sampal e Chunsam foram colocados dentro de uma cerca no mar, de forma temporária, para os recalibrar para a vida no oceano. Antes da data da sua libertação, Sampal descobriu um buraco na rede e escapou.
Cinco dias depois, o golfinho estava reunido com a sua família, da qual tinha sido separado há vários anos. Chunsam foi libertada pouco depois e foi vista a nadar com indivíduos do seu antigo grupo. Ou seja, além de se adaptarem à vida na natureza, mesmo após vários anos em cativeiro, estes golfinhos sabiam exactamente para onde ir para encontrar as suas famílias e amigos.
Está provado que os golfinhos têm capacidades cognitivas e emocionais sofisticadas, e como este caso sugere, também têm boa memória. Isto mostra que os golfinhos presos em tanques são, muito provavelmente, assombrados com memórias da vida e das famílias que deixaram para trás.
Dolphin Project
Com o objetivo de libertar estes animais, têm surgido vários projetos e associações. Como é o caso do Dolphin Project, uma organização de caridade sem fins lucrativos, dedicada ao bem-estar e proteção dos golfinhos um pouco por todo o mundo. Foi fundada por Richard (Ric) O’Barry no Dia da Terra, a 22 de abril de 1970, que lançou também a campanha Empty the Tanks (esvaziem os tanques), com o objetivo de reformar e libertar os golfinhos no oceano, sempre que isso seja possível. Desde então, a organização já libertou mais de duas dúzias de animais e muito mais foram poupados de uma captura em alto-mar, muito devido à sua ação de sensibilização.
No documentário The Cove, vencedor de um Óscar da Academia, em 2010, realizado por Louie Psihoyos, é possível seguir Ric numa campanha para impedir o massacre de golfinhos em Taiji, no Japão, onde os golfinhos são degolados, e a sua carne é vendida para consumo humano. Alguns golfinhos são capturados para parques aquáticos.
O Dolphin Project também criou um santuário para golfinhos em Bali – o Dolphin Sanctuary Project – que tem como objetivo reabilitar e libertar golfinhos em cativeiro sempre que possível, e servir como lar permanente para golfinhos que não podem voltar com segurança à natureza.
Em 2020, resgataram Johnny, Rocky e Rambo, três golfinhos-nariz-de-garrafa que passaram anos confinados numa piscina de hotel para diversão dos turistas. Johnny, o golfinho mais velho, tinha dentes desgastados abaixo da linha da gengiva quando foi resgatado. No início de 2022 ano, os dentistas colocaram-lhe coroas dentárias para que possa capturar peixes vivos e viver de forma autónoma em alto mar. Depois de recuperarem a saúde e a força no santuário, em setembro, os três golfinhos foram libertados em águas abertas. Johnny foi o primeiro dos três golfinhos a nadar para o mar.
Infelizmente, no final de 2022, Johnny faleceu por problemas respiratórios. Felizmente, teve a oportunidade de viver em liberdade os seus últimos meses. Rocky e Rambo continuam a ser acompanhados através de serviços de localização e permanecem saudáveis e em liberdade, em alto mar.
O projeto Empty the Tanks também está presente em Portugal, tendo um ativo trabalho na divulgação e sensibilidação para o tema, já tendo também organizado manifestações. O objetivo da Empty the Tank Portugal é fazer uma transição de um modelo de negócio de exploração circense de golfinhos em Delfinário para um modelo de Reabilitação em Santuário na Natureza.
O que podemos fazer para ajudar?
Se está a pensar no que pode fazer para ajudar, existem várias opções. Primeiro, não participar em espetáculos com golfinhos, visitar parques marinho ou um aquários que mantenham golfinhos em cativeiro e, claro, escolher não participar de atividades como “nadar com golfinhos”.
Além disso, podem assistir filmes como Blackfish, The Cove e A Fall From Freedom e participar em protestos e manifestações contra este modelo de negócio. É importante partilhar informação sobre esta realidade e assinar petições.
Seja espetáculos de golfinhos, carruagens puxadas por cavalos ou qualquer outra forma de exploração animal, é importante estar informado e fazer escolhas de forma consciente. A diversão não vale a crueldade.