Chama-se Maria Emília, é natural de Cinfães, tem 69 anos e é pastora. Mas nem sempre o foi. Enquanto Maria Emília está a subir com o gado até ao local onde nos encontramos, o seu primo conta-nos como Emília “nasceu num berço de ouro” e como uma relação “que deu para o torto” mudou tudo. Conta-nos como Maria Emília era bordadeira, como vivia bem e como vendia os seus bordados para “casas de gente rica”. Até ao dia em que se apaixonou, as coisas não correram bem e Emília deixou tudo e tornou-se pastora. (E quem a pode censurar? Se vocês nunca quiseram subir a montanha e tomar conta de cabras depois de uma desilusão amorosa, é porque nunca tiveram uma desilusão amorosa.)
Terminada a história do primo (que provavelmente tinha nome próprio, mas eu nunca fui boa em nomes próprios ) Emília chega com as cabras, vacas e dois cães. Perguntamos há quanto tempo é pastora, responde que há quase 30 anos. Conta-nos que foi bordadeira, mas quando perguntamos porque mudou de vida ela responde apenas que “foi o destino”. Segundo o primo, ela costuma contar a história da desilusão amorosa aos visitantes – ou eu não a contaria aqui, porque não sou de intrigas – mas aparentemente, depois de tantos anos, Maria Emília parece ter assumido que, independentemente do motivo, foi, acima de tudo, o destino que a levou até ali.
Maria Emília vive com os seus animais e percorre diariamente oito quilómetros com o gado, desde a sua aldeia, Fermentãos, em Tendais até ao parque eólico de Cinfães. Perguntamos se não se sente sozinha, responde que não. E é genuíno. Sabemos que é genuíno.
Mostra-nos o artesanato que faz enquanto pasta o rebanho, mostra-nos a carqueja que apanha. “Um ano fiz 40 euros só a vender carqueja” diz orgulhosa. Chá de carqueja faz bem a quê? “Faz bem a tudo” responde sorridente. O artesanato vende em feiras. É independente, polivalente e não precisa de mais ninguém.
“Sabem? Sou muito feliz! É isto que me faz feliz e não preciso de mais nada” e nós sentimos, de verdade, que Maria Emília é feliz. Sem projetar a sua felicidade em nada nem ninguém, é feliz. Sem esperar por uma promoção, um aumento, um pedido de casamento…. Sem esperar nada, Maria Emília é imensamente feliz.
Podem ler mais sobre esta visita a Cinfães, no artigo que escrevi para o SAPO Viagens.
O amor é lindo. Vivê-lo é sublime. Mas também pode ser triste desilusão.
A verdade é que ninguém manda nos sonhos do coração.
Cumprimentos
Eu amo conhecer histórias assim.
Dá um sentimento de esperança e motiva, sabe?
Adorei conhecer a Maria Emília
O que importa é ser feliz!