Muitas vezes, parece difícil para os consumidores continuarem a usar roupas compradas há apenas alguns meses, quando as últimas tendências surgem nas montras e prateleiras das lojas. No entanto, a cultura de comprar peças que estão na moda a preços relativamente baixos, embora social e financeiramente atraente para o consumidor, tem associado um elevado número de questões éticas e ambientais. O impacto do Fast Fashion é muito maior do que podemos imaginar.
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Mas afinal, o que é o Fast Fashion?
O fast fashion surgiu no início da década 1970 com as grandes marcas da indústria da moda, mas o termo só foi cunhado nos anos 90. ‘Fast Fashion’ é um termo usado para definir um modelo de negócio altamente lucrativo, no qual as roupas são produzidas em massa, com trabalhadores muitas vezes a trabalhar em condições desumanas. As empresas que seguem o modelo fast fashion tendem a analisar o que as pessoas consomem das marcas de design e fabricam em larga escala modelos parecidos, porém com qualidade e preços inferiores, garantindo assim que as peças sejam consumidas em maior volume.
As peças são propositadamente projetadas para serem frágeis com uma vida útil limitada, levando a várias questões éticas e de sustentabilidade. A poluição gerada pela moda rápida cria não apenas danos ambientais de longo prazo, e potencialmente irreversíveis, mas exacerba os efeitos das mudanças climáticas. Estes são os impacto do Fast Fashion a nível mundial.
O fast fashion pode ser barato, mas tem custos elevados para o planeta.
Devido ao preço acessível das roupas de moda rápida e à rapidez com que as tendências vêm e vão, entre outros fatores, a compra de roupas aumentou na última década (com excepção dos anos de 2020 e 2021, por motivos de restrições devido à Covid-19) o que se traduziu também num aumento da produção têxtil, sendo que as marcas de fast fashion estão a produzir cerca de duas vezes mais roupas hoje do que no ano 2000.
A produção global per capita de têxteis que era de 5,9 kg por ano em 1975, passou para 13 kg por ano em 2018. O consumo global de vestuário é, atualmente, de 62 milhões de toneladas por ano e deverá atingir as 102 milhões de toneladas até 2030.
Com o aumento da produção, aumentaram também os resíduos têxteis. Devido ao número de recortes para as roupas, existe uma grande quantidade de materiais que é desperdiçada, sendo que estudos prevêem que 15% dos tecidos usados na confecção de roupas sejam desperdiçados. Na pós-produção, 60% de aproximadamente 150 milhões de peças de vestuário produzidas globalmente, em 2012, foram descartadas poucos anos após a produção. A reciclagem têxtil continua muito baixa, sendo que 57% de todas as roupas descartadas terminam em aterros sanitários.
O estudo “The global environmental injustice of fast fashion” revelou que todos os anos são comprados 80 mil milhões de peças de vestuário em todo o mundo. Nos EUA, cerca de 85% da roupa acaba em aterros. Ou seja, uma média de 36 quilos por cada habitante.
Isto traz vários vários perigos para a saúde pública e para o meio ambiente já que, quando os aterros sanitários são queimados, são libertadas substâncias tóxicas, incluindo metano, um gás de efeito estufa que é pelo menos 28 vezes mais potentes que o dióxido de carbono.
O impacto do Fast Fashion nos oceanos
A indústria da moda é o segundo maior poluidor do mundo, logo depois da indústria do petróleo, e a sua produção representa 10% do total das emissões globais de carbono. Um estudo do banco de investimento UBS conclui que a indústria de fast fashion emite mais CO2 do que os setores da aviação e navegação juntos. Além disso, é responsável por 20% da poluição aquática.
Em Portugal, os dados de 2019 da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) mostram que foram recolhidas 185 mil toneladas de resíduos têxteis, o que equivale a 3,51% dos resíduos sólidos produzidos no país.
Os materiais sintéticos usados são a principal razão para os microplásticos entrarem nos oceanos, geralmente através da água usada nas máquinas de lavar, representando 35% de todos os microplásticos.
As roupas são feitas de pequenas fibras feitas de diversos materiais e, para baixar o preço e produzir roupas baratas, o poliéster é a escolha mais popular. No entanto, o poliéster é feito de combustíveis fósseis e liberta uma quantidade maior de emissões de carbono do que o algodão.
O plástico não só demora a degradar-se no oceano, mas também cria uma substância tóxica quando se degrada, o que é prejudicial para a vida marinha e para os ecossistemas marinhos.
Devido às lavagens, as fibras das roupas entram no meio ambiente através de águas residuais, que são transportadas pelos cursos de água uma vez que, devido ao seu tamanho reduzido, não são filtradas nas estações de tratamento de águas.
Estudo feitos por investigadores da University of British Columbia (Canadá) demonstram que 70 das 71 amostras de água retirada do Ártico continham microplásticos, sendo que destes, 67% eram fibras de poliéster.
Ver também: O consumo de carne de tubarão em Portugal
O impacto do Fast Fashion na saúde humana
Investigadores estimam que uma única carga de roupa tenha o potencial de libertar centenas de milhares de microfibras no abastecimento de água (Resnick, 2018). Essas minúsculas microfibras acabam por chegar ao oceano, onde os animais marinhos as podem confundir com comida, acabando por as ingerir.
Quando estes são consumidos por outros animais não humanos, as fibras sobem na cadeia alimentar, até chegarem a muitos animais humanos que as ingerem por via do consumo dos seres marinhos. As microfibras já foram encontradas em órgãos humanos e podem causar problemas reprodutivos, cancro e danos ao ADN (O’Connor, 2018). Este é o impacto do Fast Fashion na saúde humana.
Um estudo, publicado no jornal “Environment International”, identificou, pela primeira vez, partículas de microplásticos em sangue humano, sendo que 17 dos 22 dadores anónimos que participaram no estudo continham partículas no sangue.
A poluição plástica marinha é omnipresente e prejudicial à vida oceânica, conforme detalhado no Relatório sobre Microplásticos do Programa Ambiental da ONU publicado em 2018. Em 2010, algo entre “4,8-12,7 milhões de toneladas métricas de plástico” acabou no oceano , afetando negativamente ecossistemas e organismos (Beaumont et al., 2019)
Além disso, o impacto do Fast Fashion também se evidencia no consumo de água. A indústria da moda também utiliza grandes quantidades de água, consumindo um décimo de toda a água usada industrialmente para limpar produtos e operar fábricas, totalizando 79 bilhões de metros cúbicos em 2015. Atualmente, 44 trilhões de litros de água são usados anualmente para irrigação, dos quais 95% são usados para produção de algodão. Estima-se que 20% da perda de água sofrida pelo Mar de Aral foi causada pelas políticas de irrigação agressivas para estimular o cultivo de algodão.
Os dois maiores rios da Ásia Central – Syr Darya e Amu Darya – costumavam desaguar no Mar de Aral, mas também foram a fonte óbvia de irrigação para a indústria de algodão. Assim, com as águas reduzidas, os enormes volumes de pesticidas e inseticidas usados nas águas ao longo dos anos tornaram-se mais concentrados, até que os peixes começaram a morrer.
Além disso, a indústria têxtil e da moda causou uma diminuição de 7% nas águas subterrâneas locais e água potável em todo o mundo, e especialmente em países manufatureiros com escassez de água, como Índia e China.
Os produtores de algodão usam alguns dos pesticidas mais perigosos do mercado. Sete dos quinze pesticidas comumente usados na agricultura de algodão são listados como cancerígeno humanos (Cubie, 2006). Esses pesticidas têm o potencial de escorrer dos campos de algodão para lagos e rios próximos, contaminando as águas e introduzindo produtos químicos nocivos nos seres humanos.
As cores apelativas e vibrantes também têm custos bastante elevados para o planeta, já que são utilizados químicos tóxicos para tingir as roupas. Para além de poluírem a água, estes químicos podem ser perturbadores para as hormonas, cancerígenos e bioacumulativos, estando banidos em alguns países.
Muitos produtos de vestuário são enviados por via aérea, uma vez que se trata de uma opção mais rápida comparativamente ao transporte de barco. No entanto, isso provoca danos ambientais devido à emissão de carbono.
Os oceanos são um enorme sumidouro de carbono, absorvendo carbono da atmosfera na forma de dióxido de carbono. Estima-se que 25% das emissões de carbono de origem humana produzidas todos os anos sejam absorvidas pelo oceano (Heinze et al., 2015, p. 327). Esse processo de absorção aumenta a acidez do oceano, tornando-o lentamente inabitável para importantes organismos oceânicos, incluindo os corais.
Muitos consumidores não estão cientes do impacto do fast fashion no ambiente. Embora possam pensar que o impacto da sua compra é muito pequeno para fazer a diferença, a verdade é que tudo ajuda e existem algumas formas de ser mais consciente ao escolher as roupas. Uma forma de diminuiro impacto do fast fashion é consumir menos este tipo de roupa.
Já tinham refletido sobre o impacto do Fast Fashion na natureza? Que ações acham que podem fazer para diminuir oimpacto do Fast Fashion?
no ultimo curso, f8z um trabalho sobre exploração infantil no mundo, o tema de hoje é uma das formas de exploração e do que pude ver, as marcas conceituadas, também o fazem