museu do contrabando contrabandista

Ele foi contrabandista, com amor, saudade “e de que maneira”

Por muito bons que sejam os museus, por muito extenso que seja o seu espólio, nada substitui a boa conversa com alguém que viveu aquilo que o museu conta. Foi assim que, depois de visitar o Núcleo Museológico do Contrabando, em Perais, Vila Velha de Ródão, tudo fez mais sentido quando encontrei o senhor António Valentim Gonçalves. Senhor António estava sentado no banco da praça da pacata freguesia de Perais acompanhado por dois amigos. Provavelmente como faz todos os dias, talvez há alguns anos. Uma existência pacífica longe das aventuras de outros tempos. Isto porque o senhor António foi contrabandista.

Não sei como surgiu a conversa, mas a certa altura alguém me disse “está ali um senhor que foi contrabandista”. Aproximei-me dele com vontade de saber mais e de descobrir em primeira mão aquilo que o museu não nos contou.

-Então o senhor foi contrabandista?

-E de que maneira! Diz animado, com os olhos brilhantes de quem não se arrepende, nem por um segundo, da sua vida de contrabando.

Conta-nos que começou para conseguir dinheiro e que trazia perfumes, sapatos e tudo que lhe pedissem e explica como se escondia dos guardas-ficais – conhecidos por picachouriços – por entre montes e vales.

-Então, e nunca o apanharam?

-Apanharam-me uma vez, mas não me apanharam a carga! Diz orgulhoso dos seus feitos de juventude.

-O guarda apareceu e chamou por mim, eu larguei a carga e fui…

Conta que já sem a carga, que deixou para trás, os guardas o interrogaram mas não tiveram como o deter. Assim que o deixaram ir, pegou na carga e voltou a Portugal.

O Contrabando em Portugal

Como António, muitos outros homens e mulheres das regiões raianas se dedicaram ao contrabando, durante os anos em que as fronteiras estavam fechadas e os regimes eram totalitários. Durante a noite, homens e mulheres carregados com dezenas de quilos, atravessavam a fronteira, usando o contrabando como a principal forma de sobrevivência.

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